terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma coletânea de trava-línguas



Alguns trava-línguas para facilitar o trabalho de fonoaudiólogos, professores, atores, locutores, enfim, profissionais que precisam de uma boa dicção. E também para aquelas brincadeiras entre amigos e familiares.

O dicionário Houaiss escreve que trava-língua é uma espécie de jogo verbal que consiste em dizer, com clareza e rapidez, versos ou frases com grande concentração de sílabas difíceis de pronunciar, ou de sílabas formadas com os mesmos sons, mas em ordem diferente.

1) Casa suja, chão sujo
2) No meio do trigo tinha três tigres.
3) Três pratos de trigo para três tigres tristes!
4) A vaca malhada foi molhada por outra vaca molhada e malhada.
5) Atrás da porta torta tem uma porca morta.
6) A naja egípcia gigante age e reage hoje, já.
7) A babá boba bebeu o leite do bebê.
8) A rua de paralelepípedo é toda paralelepipedada.
9) Bagre branco, branco bagre.
10) Bote a bota no bote e tire o pote do bote.
11) Caixa de graxa grossa de graça.
12) Essa trava é uma trova pra te entravar. Entravar com uma trova é uma trava de lascar!
13) O tatuador tatuado tatuou a tatua do tatu. Tatua tatuada enfezada, tatuou o tatu e o tatuador já tatuado!
14) Num ninho de mafagafos, havia sete mafagafinhos;
quem amafagafar mais mafagafinhos, bom amagafanhador será.
15) Luíza lustrava o lustre listrado; o lustre lustrado Luzia.

16) Cozinheiro cochichou que havia cozido chuchu chocho num tacho sujo.

17) Se o papa papasse papa  
Se o papa papasse pão,
Se o papa tudo papasse 
Seria um papa-papão

18) Maria-Mole é molenga, se não é molenga,
Não é Maria-Mole. É coisa malemolente,
Nem mala, nem mola, nem Maria, nem mole.

19) Tinha tanta tia tantã. 
Tinha tanta anta antiga.
Tinha tanta anta que era tia. 
Tinha tanta tia que era anta.

20) O marteleiro acertou 
Marcelo com o martelo. 
Martelo, marteleiro, martelada, 
Marcelo, dor que não quero!

21) O que é que Cacá quer? Cacá quer caqui. Qual caqui que Cacá quer? Cacá quer qualquer caqui.

22) O doce perguntou pro doce
Qual é o doce mais doce 
Que o doce de batata-doce.
O doce respondeu pro doce  
Que o doce mais doce que
O doce de batata-doce 
É o doce de doce de batata-doce.

23) Se o bispo de Constantinopla
a quisesse desconstantinoplatanilizar
não haveria desconstantinoplatanilizador
que a desconstantinoplatanilizaria
desconstantinoplatanilizadoramente.

24) O tempo perguntou pro tempo
quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu pro tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem.

25) O desinquivincavacador das caravelarias desinquivincavacaria as cavidades que deveriam ser desinquivincavacadas.

domingo, 14 de novembro de 2010

Analfabeto funcional e a política

Hélio Consolaro*

O presidente do Tribunal Eleitoral de São Paulo contou que Francisco Oliveira Silva, mais conhecido como palhaço Tiririca, teve êxito nos testes efetuados. Tiririca fez um ditado cujo tema era Justiça Eleitoral e leu uma notícia de jornal.

Se ouvirmos a população sobre o analfabeto, iremos ouvir tributos negativos e positivos. Negativos: ignorantes, dependentes, cegos, sofredores, coitados e alienados. Positivos: cidadão, sabedoria, também são filhos de Deus, etc. Os negativos são predominantes.
Sobre as causas, há variantes. Um grupo vincula o analfabetismo à exclusão social, à pobreza e à fome, à dominação de classe e à ausência de direitos. Um outro grupo relaciona o analfabetismo ao preconceito e à discriminação.
“No Brasil, durante o Período Colonial e o Império, enquanto a sociedade agrária estava imersa na oralidade, a condição de analfabeto era compartilhada por escravos e senhores, elites e grupos populares, e não era vista como um atributo negativo.”  Essa negatividade veio com o positivismo que era a ideologia dos republicanos e, mais atualmente, pela sociedade do conhecimento que exige mais preparo profissional para entrar no mercado de trabalho. Hoje, o analfabetismo está na base da pirâmide social.
O jovem ou adulto que não sabe ler nem escrever não é incapaz, não é “puro” ou ingênuo, nem é uma criança crescida. Nem tampouco está nas trevas. O analfabeto produz riqueza material e cultural e se insere na sociedade atual em atividades que exigem apenas a oralidade, como: palhaço de circo, religioso, jogador de futebol, etc.
O presidente Lula, a exemplo de Tiririca, foi perseguido pelos “ilustrados” por ter apenas o ginásio incompleto. Ele disse que a perseguição política feita ao deputado mais votado do Brasil é uma cretinice. Por quê? Porque, se levar em consideração os padrões modernos de letramento, segundo o Instituto Paulo Montenegro (do Ibope), que discute a educação no Brasil, 70% dos brasileiros são analfabetos funcionais. Se o Tiririca é um artista de sucesso e conseguiu uma votação estrondosa na última eleição, superando muitos doutores (ph.D.), isso demonstra sua cidadania de leitura da realidade. Ser alfabetizado não é apenas decodificar mecanicamente signos, no caso, letras. Assim mesmo, ele provou ao TRE de São Paulo que tem escolaridade para ler textos com certa complexidade.
Não se faz aqui uma apologia ao analfabetismo, apenas chamar a atenção dos leitores, dizendo que o tema é complexo, não pode ser tratado de forma simplória e preconceituosa.
O livro “Preconceito contra o analfabeto”, das professoras Maria Clara Di Pierro (USP) e Ana Maria Galvão (UFMG), publicado pela editora Cortez, merece ser lido para quem quiser pesquisar o assunto. Outra fonte é o site do Instituto Paulo Montenegro: http://www.ipm.org.br

Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.

sábado, 6 de novembro de 2010

Quem produz analfabetos funcionais?

Hélio Consolaro*

A UNESCO define analfabeto funcional a pessoa que sabe escrever seu próprio nome, lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. O analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar idéias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas. Uma pessoa que consegue ler a Folha da Região, por exemplo, não é analfabeto funcional.

No Brasil, o índice de analfabetismo funcional é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro anos de estudo formal. O conceito, porém, varia de acordo com o país.

Todos jogam a culpa na escola pela existência de grande número de analfabetos funcionais no Brasil. Ela não é a única culpada, aliás, não é a grande culpada, porque o processo de letramento (alfabetização) regride significativamente se a pessoa não lê mais nada depois de sair da escola - ensino fundamental.

Uma pessoa que termina o ensino fundamental e continua lendo jornais, revistas e até livros dá um banho de sabedoria em portadores de diplomas de cursos universitários. Escrever e ler é como jogar futebol, parou, entreva.

No Japão, onde a escrita é ideográfica, cada nome precisa ser decorado, não há articulação de letras, cada dois japoneses, um compra jornal. Como aprender a escrever e ler é muito difícil, a pessoa não pode se afastar da escrita por muito tempo, pois retorna ao analfabetismo.

O programa Folha da Região na Sala de Aula, por exemplo, leva o jornal à escola. O aluno, ao sair da escola, vai ler o jornal ou outros jornais. Além de ser um marketing positivo da leitura, faz de Araçatuba uma cidade de alto índice de leitura de jornais em relação a outras cidades brasileiras. É a sociedade contribuindo para diminuir o número de analfabetos funcionais.

A família lê para que seus filhos também o façam? As igrejas têm uma biblioteca disponível para seus fiéis, nem que sejam livros teológicos? Os sindicatos disponibilizam livros, jornais e revistas para sua categoria? As empresas possuem salas de leitura para seus colaboradores? Existem bibliotecas abertas a todos os alunos, inclusive aos pais, em cada escola? Há biblioteca pública implantada nos bairros pelas prefeituras?

Um exemplo positivo são as revistas e jornais disponíveis nas salas de espera dos consultórios médicos e dentários. Tão simples, mas ótima para que a leitura persista.

Diante de tudo isso, precisamos repensar as responsabilidades na questão da existência de analfabetos funcionais. Outro criadouro de analfabetos funcionais é o método de alfabetização usado, mas isso é assunto para outro artigo.

*Hélio Consolaro é professor de Português, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

Analfabetos funcionais e emprego

Hélio Consolaro*

Na coluna passada, abordamos tal tema sob a perspectiva da falta de compromisso da sociedade com a leitura. Depois que o jovem sai da escola, a sociedade não o incentiva a ler, pelo menos não facilita o acesso a jornais, revistas e livros.
O processo de alfabetização também cria analfabetos funcionais. Aliás, atualmente, não se fala mais em “alfabetização”, mas em “letramento”, não basta conhecer letras e números, precisa-se ler textos e, às vezes, longos.
Por que letramento? Ele é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. O estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo
como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais.
Veja bem: ter se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita "própria", ou seja, é assumi-la como sua "propriedade". O letramento faz da pessoa uma leitora, tanto do mundo como dos signos, faz dela também uma escritora. Uma nova exigência do mercado de trabalho.
O presidente Lula veio do Nordeste, empregou-se na indústria automobilística paulista. Hoje, isso seria impossível, ele precisaria ter o ensino médio completo e saber rudimentos de inglês, porque o modo de fabricar os carros mudou, ficou mais complexo.
Até a década de 40, o Censo pedia ao cidadão brasileiro se ele sabia assinar o nome. Se respondesse que sim, era considerado alfabetizado. A partir de 1950, a pergunta era se o cidadão conseguia escrever um bilhete.
Na verdade, para o mercado de trabalho, alfabetizado (ou letrado) é a pessoa que revela habilidade para fazer uso adequado da leitura e da escrita: sabe ler e escrever, redige um ofício, preenche um formulário. Pensando assim, o grau de analfabetismo brasileiro cresce assustadoramente. Assim, ter freqüentado a escola por nove anos não garante o letramento.
Em termos de alfabetização, o método da silabação, adotada pelas antigas cartilhas, em que a criança era considerada alfabetizada no primeiro ano escolar, após um ditado aplicado pelo inspetor de ensino, garantiria o letramento tão necessário ao mercado de trabalho?
Conforme a realidade vai se tornando mais complexa, os velhos métodos se tornam obsoletos, viram apenas saudosismo. Atenderam a uma época, mas não funcionam mais.

*Hélio Consolaro é professor de Português, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Presidenta com "A" - por Gabriel Perissé

A linguagem como campo de batalha entre diferentes concepções da existência. Decisões linguísticas demonstram visões de mundo. Estilo ao escrever coincide com estilo de viver. Após a vitória de Dilma Roussef, uma discussão gramatical, aparentemente pequena, revela como a mídia vai se comportar perante a nova realidade política do país.
Trata-se de escolher entre o substantivo feminino "presidenta", o substantivo "presidente" que serve aos dois gêneros e o adjetivo "presidente", que também serve para um homem ou uma mulher que presida o país. A Folha de S.Paulo está empregando "a presidente eleita", "Dilma presidente". Nas páginas do Correio Brazilienze leio "a presidente". Em O Globo: "Em seu primeiro discurso como presidente, Dilma..." No Estado de S.Paulo, Dilma é "a 1ª presidente do Brasil".
 Em março de 2010, o radar de Lauro Jardim (revista Veja) avisava:
"Soa mal aos ouvidos, mas pode ir se acostumando porque o martelo já está quase batido: na campanha, Dilma Rousseff será tratada como ‘presidenta’ e não como ‘presidente’ – e, se for eleita, assim será chamada oficialmente. A cúpula de campanha de Dilma avalia que a palavra no feminino reforça a ideia de uma mulher na Presidência. O PT submeteu o ‘presidenta’ a uma pesquisa. Segundo se constatou, as pessoas estranham no início, mas depois aprovam. Dilma Rousseff também gostou da solução." ("Radar on-line")Opção preferencialQuem vê na eleição de Dilma uma nova etapa na vida nacional, terá talvez mais facilidade em aceitar o feminino "presidenta". A presença de uma mulher em cargo inédito aos olhos e ouvidos brasileiros provoca sensação de dissonância. Mas é questão de treino e de tempo.
Em consonância com a mudança político-gramatical, Leonardo Boff chama Dilma de "a novel presidenta", em artigo que acaba de escrever. No Tribuna do Norte (Natal), leio a chamada – "Lula faz de Dilma presidenta". O Diário de Cuiabá, ainda no dia 27 de outubro, referia-se à possibilidade de Dilma tornar-se "presidenta".
Por outro lado, na mídia internacional, não há dúvidas. Em Portugal, o Jornal de Notícias aplica o feminino com rigor: "Dilma será a primeira presidenta do Brasil". E temos "la primera presidenta de Brasil" (La Nación, Argentina), "la presidenta electa" (El País, Uruguai), "première femme présidente du Brésil" (Le Figaro, França).
Não está errado escrever ou falar "presidente Dilma". Convém saber, no entanto, se é por opção ou por falta de hábito.