domingo, 2 de outubro de 2011

A gente vai / A gente vamos


Hélio Consolaro*
  
Maria Cristina, de Andradina, me pediu que abordasse a concordância de “gente”, em várias situações. Como o pedido de um leitor é uma ordem, vou à resposta.

Há “agente” e “a gente”. A primeira expressão é a pessoa que age (agente comunitário, agente penitenciário), a segunda, é um tratamento do falante dado a e ele mesmo, muito usada na linguagem coloquial, como em “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito” (Guimarães Rosa).

“A gente vai ao cinema?”. Essa pergunta só pode ser feita num texto informal, na fala cotidiana. Ao escrever um texto mais formal, o redator deve trocar a expressão por “nós”: “Vamos ao cinema?” ou faz o sujeito ficar indeterminado: “Vai-se ao cinema?”.

E “A gente vamos ao cinema”. Certo ou errado? Os gramáticos consideram tal concordância fora do padrão culto, mas há entre eles quem admita existir na frase uma silepse de pessoa, como em: “Todos os brasileiros somos fanáticos por futebol”. Na dúvida da polêmica, é melhor não escrever essa concordância.

Se em “Vossa Senhoria é bonita”, a pessoa tratada pelo pronome for mulher; em “Vossa Senhoria é bonito”, se for homem. Essa dupla concordância não é permitida com “ a gente”. Segundo os gramáticos, não pode acontecer com “a gente” o que Guimarães Rosa escreveu: “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito”, porque “gente” é feminino, portanto “nova”, obrigatoriamente adjetivo feminino.

Outro exemplo: “A gente está juntos há muito tempo”. No padrão culto, tal frase está incorreta. O certo seria “A gente está junta há muito tempo”.

Exigir isso do falante comum no seu cotidiano é violentá-lo. Ninguém dirá “A gente já está segura”, mas “seguro”, se o falante for homem.  Assim, a gramática do uso padrão destoa do uso popular da língua.
“Gente”, como habitantes de um determinado lugar tem plural. Exemplo: A gente da favela estava temerosa/ As gentes da favela estavam temerosas.

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