sábado, 6 de novembro de 2010

Quem produz analfabetos funcionais?

Hélio Consolaro*

A UNESCO define analfabeto funcional a pessoa que sabe escrever seu próprio nome, lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. O analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar idéias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas. Uma pessoa que consegue ler a Folha da Região, por exemplo, não é analfabeto funcional.

No Brasil, o índice de analfabetismo funcional é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro anos de estudo formal. O conceito, porém, varia de acordo com o país.

Todos jogam a culpa na escola pela existência de grande número de analfabetos funcionais no Brasil. Ela não é a única culpada, aliás, não é a grande culpada, porque o processo de letramento (alfabetização) regride significativamente se a pessoa não lê mais nada depois de sair da escola - ensino fundamental.

Uma pessoa que termina o ensino fundamental e continua lendo jornais, revistas e até livros dá um banho de sabedoria em portadores de diplomas de cursos universitários. Escrever e ler é como jogar futebol, parou, entreva.

No Japão, onde a escrita é ideográfica, cada nome precisa ser decorado, não há articulação de letras, cada dois japoneses, um compra jornal. Como aprender a escrever e ler é muito difícil, a pessoa não pode se afastar da escrita por muito tempo, pois retorna ao analfabetismo.

O programa Folha da Região na Sala de Aula, por exemplo, leva o jornal à escola. O aluno, ao sair da escola, vai ler o jornal ou outros jornais. Além de ser um marketing positivo da leitura, faz de Araçatuba uma cidade de alto índice de leitura de jornais em relação a outras cidades brasileiras. É a sociedade contribuindo para diminuir o número de analfabetos funcionais.

A família lê para que seus filhos também o façam? As igrejas têm uma biblioteca disponível para seus fiéis, nem que sejam livros teológicos? Os sindicatos disponibilizam livros, jornais e revistas para sua categoria? As empresas possuem salas de leitura para seus colaboradores? Existem bibliotecas abertas a todos os alunos, inclusive aos pais, em cada escola? Há biblioteca pública implantada nos bairros pelas prefeituras?

Um exemplo positivo são as revistas e jornais disponíveis nas salas de espera dos consultórios médicos e dentários. Tão simples, mas ótima para que a leitura persista.

Diante de tudo isso, precisamos repensar as responsabilidades na questão da existência de analfabetos funcionais. Outro criadouro de analfabetos funcionais é o método de alfabetização usado, mas isso é assunto para outro artigo.

*Hélio Consolaro é professor de Português, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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