sábado, 30 de julho de 2011

O idioma anda mal em Portugal


Hélio Consolaro*

Fotografia reproduzida de um jornal português, retratando o estado do professor.E agora? 
Se você, caro leitor, acha que em Portugal a língua é bem tratada, os alunos aprendem tudo, engana-se. A crise também chegou por lá.

Leia o lide de uma notícia:

“Um poema de Álvaro de Campos baralhou os alunos do 12.º ano que, no mês passado, realizaram o exame nacional de Português. As perguntas de gramática também não ajudaram. O resultado foi uma média negativa, a mais baixa em 14 anos de exames nacionais no ensino secundário. Numa escala de 0 a 20, a média total foi de 8,9, menos 14 pontos do que a obtida em 2010. O exame de Português é obrigatório para todos os alunos do 12.º ano.” (Público, 15/7/2011)

E a reação de alguns intelectuais não é diferente daqui.Veja o que escreveu Manuel Antônio Pina:

“Um amigo meu, professor de uma Faculdade de Arquitetura, gasta habitualmente as primeiras aulas do curso a ensinar a tabuada aos seus alunos e a combater o estúpido preconceito que o secundário neles instalou contra a memorização, como se o conhecimento fosse possível sem memorização.

“Sendo embora um observador distante, e apenas curioso, do fenômeno do ensino, julgo que, por razões de bom senso, tanto a  Matemática como o Latim, como também a Filosofia, deveriam fazer obrigatoriamente parte dos currículos escolares durante todo o secundário.

Ora, há uns anos (porque o facilitismo ‘simplex’ não é invenção dos atuais responsáveis do Ministério da Educação), até a Filosofia se quis excluir, ou limitar a uma situação residual, do ensino. O resultado está à vista: estamos a construir uma sociedade de homens, como diz Drummond, ‘cortados ao meio’”.  (In jornal “Público” de 24 de junho de 2009)

Se o guindaste é um prolongamento dos braços do homem,  foi inventado para poupar as pessoas do serviço pesado, por que focar a memorização como o objetivo principal do ensino, se temos a máquina de calcular e o computador? Essas máquinas é um prolongamento do cérebro humano.    

Acreditamos em que as crises são benéficas, elas nos fazem a tomar novos rumos. Ela se instalou no ensino do idioma, tanto no Brasil como em Portugal, porque o mundo simbólico mudou, o jeito de pensar de nossas crianças e jovens deu um salto, e os adultos não querem perceber isso, não se reestruturam, preferem as pichações às mudanças de posturas. Se a realidade se transformou, necessário se faz uma adaptação a ela. O conservadorismo não é solução para nada, apenas saudosismo.  


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Possi cinco livros publicados. Membro da Academia Araçatubense de Letras e da UBE.

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