sábado, 30 de julho de 2011

Qual é a origem e o emprego do pronome você?


Quando se quer explicar que as palavras evoluem no decorrer do tempo a um leigo da etimologia, pega-se a palavra você. Vou usar algumas dicas da professora Sílvia que é professora de Português na Argentina. O ensino de nosso idioma e a moeda brasileira avançam assustadoramente naquele país. 

“Você” é forma evoluída do pronome de tratamento “vossa mercê”, assim: “vossa mercê”, “vossemecê”, “vosmecê”, “você”. E na fala já usam “ocê” e “cê”.

Na prática, seu emprego é de segunda pessoa, já que é usado com referência à pessoa com quem se fala (tu) e não à pessoa de quem se fala. Entretanto, em razão da origem, “você” é pronome de tratamento – da mesma forma que “Vossa Excelência”, “Vossa Senhoria”, “Vossa Majestade”,“Vossa Alteza” e outros – e como tal é da terceira pessoa do singular (plural: vocês). Por isso, leva o verbo para a terceira pessoa: “Você é meu amigo” e “Vocês podem ir”. 


“Você” é utilizado como sujeito, agente da passiva e adjunto adverbial, como em “Você já disse o que quer”, “Cátia foi nomeada por você” e “Quero ir com você”. No padrão coloquial, também aparece como predicativo, especialmente no plural: “Este livro é de vocês?”. Esse pronome funciona também como objeto, mesmo na língua culta: “Quero você para mim” e “Não darei a você esse gostinho”. 

“Você” é largamente empregado na maior parte do território brasileiro, com exceção do Sul e de algumas áreas do Norte e Nordeste – em que se usa tu –, para expressar intimidade, para indicar relação de igual para igual ou relação superior/subordinado e mais velho/mais jovem. Os gaúchos usam “tu”, mas o verbo sempre fica terceira pessoa. Em Portugal, ele também existe, mas é sobrepujado em uso por tu.

Por que os pronomes de tratamento são de terceira pessoa, uma vez que se referem à pessoa com quem se fala (segunda)?

Há duas explicações. A primeira, pela dificuldade encontrada pelo usuário da língua a conjugar os verbos na segunda pessoa (singular e plural, tu e vós).

A segunda atribuí tal fato a razões históricas: no passado, não era considerado apropriado alguém se dirigir diretamente a autoridade ou a pessoa de classe social superior, usando pronome de segunda pessoa (tu, vós). Os costumes requeriam o emprego de formas indiretas, pelas quais se fazia referência aos atributos do interlocutor. 
Daí os pronomes “Vossa Excelência”, “Vossa Majestade”, “Vossa Reverendíssima” e outros serem de terceira pessoa (forma indireta) e levarem o verbo, pronomes oblíquos e possessivos para a mesma pessoa. Como exemplos atuais dessa comunicação indireta, temos: “Meu pai gostaria de levar-me ao shopping?” (em vez de “Pai, quer me levar ao shopping?”) e “A filhinha agora vai tomar sopinha” (em lugar de “Filhinha, agora você vai tomar sopinha”).

Fiz algumas intervenções na explicação da professora Sílvia, mas ela demonstrou que conhece muito bem o português. 

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