segunda-feira, 28 de maio de 2012

Palavras que foram para o beleléu


Enquanto houver falantes que dela façam uso, uma língua se manterá um organismo vivo. Estima-se que hoje 6.909 idiomas diferentes sejam falados no mundo. O número, no entanto, é certamente ainda maior, pois se acredita que haja entre 300 e 400 línguas ainda não catalogadas em regiões do Pacífico e da Ásia.
Mais do que sistemas de signos da comunicação humana, as línguas naturais são parte indissociável da cultura de um povo e, enquanto estiverem vivas, passarão frequentemente por mudanças. Exemplo disso é o léxico (conjunto de palavras de uma língua), impossível de ser inventariado em sua totalidade devido ao comportamento dinâmico. Seja para dar contas das inovações trazidas pela tecnologia ou em função de práticas que tenham caído em desuso, o acervo de palavras de um idioma está sempre recebendo novos termos e deixando outros para trás. Sem que, muitas vezes, os falantes se deem conta.   
Em “Pequeno dicionário brasileiro da língua morta”, o jornalista e escritor Alberto Villas garimpa palavras – ou acepções de palavras – do nosso idioma que tenham caído em desuso. É o caso de xumbrega: “Diz a lenda que essa palavra tem origem lá por volta de 1600, quando o aventureiro alemão Friedrich Hermann Schönberg, que comandava as tropas de Portugal contra a Espanha, se deu mal. Schönberg acabou virando xumbrega. E xumbrega quer dizer uma coisa ruim, feia, mal-acabada”, ensina o livro.
Exemplo de termo que possuía significado além daquele de uso mais corrente hoje é “café com leite”. O livro de Villas lembra que o nome da bebida amplamente consumida no desjejum também era comumente utilizado para expressar uma pessoa meio boba, que não fazia parte de nenhuma rodinha de amigos; o sujeito fácil, assim como o “arroz de festa”; e também significava a política de divisão do poder político nacional pelos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Apesar do título e de trazer verbetes organizados à maneira de um dicionário, o livro de Villas não configura um dicionário tradicional. Na visão do autor, trata-se mais de uma seleção de minicrônicas, pois ele conta pequenas histórias para mostrar o caminho traçado pela palavra que selecionou: como era seu uso e no que se transformou – ou se caiu no esquecimento, mas sem explicar o porquê do desuso.
Nascido em Belo Horizonte, Villas tem outros quatro títulos publicados: “O mundo acabou!”, “Afinal, o que viemos fazer em Paris?”, “Admirável mundo velho!” e “Onde foi parar nosso tempo?” (Revista Brasil Rotário, maio de 2012, p.41)

Nenhum comentário:

Postar um comentário