terça-feira, 28 de abril de 2015

Caratê e balé



Hélio Consolaro*

Há entre nós uma tendência a imitar tudo que é estrangeiro, tudo lá fora é melhor do que aqui, aquele complexo chamado de “vira-lata”, de inferioridade.

Ballet lá na França; karaté, no Japão. Aqui no Brasil: balé e caraté. Mas as academias das duas modalidades, para fazer marketing, como se abrasileirar-se fosse uma atitude de somenos, inserem o estrangeirismo em seus nomes.
  
Importar palavras é resultado de interação entre os povos, salutar, mas não podemos exagerar. Caso já exista uma palavra que traduza a estrangeira, não faz sentido importar uma outra.


Como aconteceu com “deletar”, da tecla do computador em  inglês “delete”, pois temos “delir” em português. Nesse caso, houve uma coincidência, tanto o inglês como o português importaram a palavra do latim: delere. Conjugar o verbo “delir” é complicado, defectivo, terceira conjugação.
Já deletar é primeira conjugação, regular, bem mais fácil. Nesse caso, a importação foi mais inteligente, pois “delete” se encaixa em nosso sistema ortográfico. 

Brasileiros que ficam com os olhos voltados para a Europa e Estados Unidos importam mais e querem inserir a palavra em nosso vocabulário na forma estrangeira, sem adaptação ao sistema ortográfico português. Com a nova ordem econômica, como vamos nos comportar com o mandarim.

Palavras não adaptadas à ortografia portuguesa: show, marketing, link. Palavras adaptadas: uísque, linque, xou, balé, caratê.

Palavras de origem latina ou grega não são estrangeirismos porque os dois idiomas fazem parte da formação do idioma português. Assim como as de origem indígena e africana porque eram línguas de povos que se inseriram na cultura brasileira. Apesar disso, se adaptaram ao sistema ortográfico português. O índio já estava aqui, o negro foi trazido à força, como escravo.

Estudar a etimologia das palavras, a história de cada uma é apaixonante. E o melhor dicionário para isso é o Houaiss.

*Hélio Consolaro é professor de Português e escritor.


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