Hélio Consolaro*
Há entre nós uma tendência a imitar tudo que é estrangeiro,
tudo lá fora é melhor do que aqui, aquele complexo chamado de “vira-lata”, de
inferioridade.
Ballet lá na França; karaté, no Japão. Aqui no Brasil: balé
e caraté. Mas as academias das duas modalidades, para fazer marketing, como se
abrasileirar-se fosse uma atitude de somenos, inserem o estrangeirismo em seus
nomes.
Importar palavras é resultado de interação entre os povos,
salutar, mas não podemos exagerar. Caso já exista uma palavra que traduza a
estrangeira, não faz sentido importar uma outra.
Como aconteceu com “deletar”, da tecla do computador em inglês “delete”, pois temos “delir” em
português. Nesse caso, houve uma coincidência, tanto o inglês como o português
importaram a palavra do latim: delere. Conjugar o verbo “delir” é complicado,
defectivo, terceira conjugação.
Já deletar é primeira conjugação, regular, bem mais fácil.
Nesse caso, a importação foi mais inteligente, pois “delete” se encaixa em
nosso sistema ortográfico.
Brasileiros que ficam com os olhos voltados para a Europa e
Estados Unidos importam mais e querem inserir a palavra em nosso vocabulário na
forma estrangeira, sem adaptação ao sistema ortográfico português. Com a nova
ordem econômica, como vamos nos comportar com o mandarim.
Palavras não adaptadas à ortografia portuguesa: show,
marketing, link. Palavras adaptadas: uísque, linque, xou, balé, caratê.
Palavras de origem latina ou grega não são estrangeirismos
porque os dois idiomas fazem parte da formação do idioma português. Assim como as
de origem indígena e africana porque eram línguas de povos que se inseriram na
cultura brasileira. Apesar disso, se adaptaram ao sistema ortográfico
português. O índio já estava aqui, o negro foi trazido à força, como escravo.
Estudar a etimologia das palavras, a história de cada uma é apaixonante.
E o melhor dicionário para isso é o Houaiss.
*Hélio Consolaro é professor de Português e escritor.
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