sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O ensino do português nas universidades

Hélio Consolaro*

A revista Ensino Superior publicou uma reportagem, de Leandro Rodrigues, muito interessante, intitulada “Meu rico (e maltratado) português”, que mereceu manchete, sobre a situação do ensino do português no Brasil. O subtítulo “Os estudantes só descobrem a necessidade de reaprender a língua na universidade, sob a pressão das circunstâncias” demonstra que ela vai se ater a estudantes universitários.
Uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro e pela Ação Indicativa compôs o 3.º Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf). Os números assustam. Apenas 25% da população brasileira, entre 15 e 64 anos, demonstram domínio pleno da compreensão de textos. Para 67%, a conquista da leitura se limita à localização de informações simples em enunciados de uma só frase, ou à capacidade para identificá-las em textos curtos. Enquanto 8% não conseguem sair do ponto de partida, ou seja, são mesmos analfabetos. 
Os 67%, portadores do alfabetismo funcional, colocam uma questão muito séria do processo educacional: alfabetizar não basta, a escola precisa leiturizar o educando, fazer que ele também escreva textos. Como afirma Fábio Montenegro, secretário executivo do instituto: “A alfabetização básica não dá o mínimo necessário para a pessoa continuar se desenvolvendo. {...} Queremos chamar a atenção para a importância de a população dominar a leitura e a escrita”.
Essa realidade reflete no ensino superior, e a revista mostra isso. Também revela ações afirmativas, como o trabalho da Oficina de Produção Textual, da Universidade Cidade de São Paulo, que faz um trabalho com os estudantes dos cursos de graduação e até com os já formados.
A professora Edna Guerra Paes Manso, coordenadora da oficina, afirma que os professores de Língua Portuguesa, antes e durante a universidade, precisam mudar sua postura. Em vez de concentrar apenas no ensino da gramática, deve partir para a compreensão de texto, pondo a gramática como auxiliar. E ensinar o aluno a elaborar seu próprio texto.
O Centro Universitário de Maringá (Cesumar) mantém curso obrigatório de nivelamento de português, com duração de 20 a 40 horas, para todos os recém-ingressos em seus cursos. Já a Universidade de Brasília (UnB) mantém um serviço de tira-dúvidas por telefone, disponível a seus alunos.
Com a reprodução da crônica de Machado de Assis, “Sr. Algarismo”, a revista mostrou que o problema é velho, pois durante o Império, houve uma pesquisa e se descobriu que 70% da população era analfabeta. Ironiza Machado que políticos falavam apenas para 30% da população, e que a chamada opinião pública se restringe a isso. Parece que a realidade mudou pouco, levando em consideração os 67% de pessoas que lêem apenas mensagens curtas.
Passando isso para os dias de hoje, quer o alfabetismo funcional compromete a cidadania brasileira, por isso se diz que se faz uma verdadeira revolução quando transformamos o aluno num leitor.   
A Revista Ensino Superior é editada em papel e distribuída nas universidades e está disponível em edição on line no seguinte endereço: www.revistaensinosuperior.com.br  (12/11/2003)


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras

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