Hélio Consolaro*
A revista Ensino Superior publicou uma reportagem, de
Leandro Rodrigues, muito interessante, intitulada “Meu rico (e maltratado)
português”, que mereceu manchete, sobre a situação do ensino do português no
Brasil. O subtítulo “Os estudantes só descobrem a necessidade de reaprender a
língua na universidade, sob a pressão das circunstâncias” demonstra que ela vai
se ater a estudantes universitários.
Uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro e pela
Ação Indicativa compôs o 3.º Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional
(Inaf). Os números assustam. Apenas 25% da população brasileira, entre 15 e 64
anos, demonstram domínio pleno da compreensão de textos. Para 67%, a conquista
da leitura se limita à localização de informações simples em enunciados de uma
só frase, ou à capacidade para identificá-las em textos curtos. Enquanto 8% não
conseguem sair do ponto de partida, ou seja, são mesmos analfabetos.
Os 67%, portadores do alfabetismo funcional, colocam uma
questão muito séria do processo educacional: alfabetizar não basta, a escola
precisa leiturizar o educando, fazer que ele também escreva textos. Como afirma
Fábio Montenegro, secretário executivo do instituto: “A alfabetização básica
não dá o mínimo necessário para a pessoa continuar se desenvolvendo. {...}
Queremos chamar a atenção para a importância de a população dominar a leitura e
a escrita”.
Essa realidade reflete no ensino superior, e a revista
mostra isso. Também revela ações afirmativas, como o trabalho da Oficina de
Produção Textual, da Universidade Cidade de São Paulo, que faz um trabalho com
os estudantes dos cursos de graduação e até com os já formados.
A professora Edna Guerra Paes Manso, coordenadora da
oficina, afirma que os professores de Língua Portuguesa, antes e durante a
universidade, precisam mudar sua postura. Em vez de concentrar apenas no ensino
da gramática, deve partir para a compreensão de texto, pondo a gramática como
auxiliar. E ensinar o aluno a elaborar seu próprio texto.
O Centro Universitário de Maringá (Cesumar) mantém curso
obrigatório de nivelamento de português, com duração de 20 a 40 horas, para
todos os recém-ingressos em seus cursos. Já a Universidade de Brasília (UnB)
mantém um serviço de tira-dúvidas por telefone, disponível a seus alunos.
Com a reprodução da crônica de Machado de Assis, “Sr.
Algarismo”, a revista mostrou que o problema é velho, pois durante o Império,
houve uma pesquisa e se descobriu que 70% da população era analfabeta. Ironiza
Machado que políticos falavam apenas para 30% da população, e que a chamada
opinião pública se restringe a isso. Parece que a realidade mudou pouco,
levando em consideração os 67% de pessoas que lêem apenas mensagens curtas.
Passando isso para os dias de hoje, quer o alfabetismo funcional
compromete a cidadania brasileira, por isso se diz que se faz uma verdadeira
revolução quando transformamos o aluno num leitor.
A Revista Ensino Superior é editada em papel e distribuída
nas universidades e está disponível em edição on line no seguinte endereço: www.revistaensinosuperior.com.br (12/11/2003)
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras
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