Enquanto
houver falantes que dela façam uso, uma língua se manterá um organismo vivo.
Estima-se que hoje 6.909 idiomas diferentes sejam falados no mundo. O número,
no entanto, é certamente ainda maior, pois se acredita que haja entre 300 e 400
línguas ainda não catalogadas em regiões do Pacífico e da Ásia.
Mais
do que sistemas de signos da comunicação humana, as línguas naturais são parte
indissociável da cultura de um povo e, enquanto estiverem vivas, passarão
frequentemente por mudanças. Exemplo disso é o léxico (conjunto de palavras de
uma língua), impossível de ser inventariado em sua totalidade devido ao
comportamento dinâmico. Seja para dar contas das inovações trazidas pela
tecnologia ou em função de práticas que tenham caído em desuso, o acervo de
palavras de um idioma está sempre recebendo novos termos e deixando outros para
trás. Sem que, muitas vezes, os falantes se deem conta.
Em
“Pequeno dicionário brasileiro da língua morta”, o jornalista e escritor
Alberto Villas garimpa palavras – ou acepções de palavras – do nosso idioma que
tenham caído em desuso. É o caso de xumbrega: “Diz a lenda que essa palavra tem
origem lá por volta de 1600, quando o aventureiro alemão Friedrich Hermann
Schönberg, que comandava as tropas de Portugal contra a Espanha, se deu mal.
Schönberg acabou virando xumbrega. E xumbrega quer dizer uma coisa ruim, feia,
mal-acabada”, ensina o livro.
Exemplo
de termo que possuía significado além daquele de uso mais corrente hoje é “café
com leite”. O livro de Villas lembra que o nome da bebida amplamente consumida
no desjejum também era comumente utilizado para expressar uma pessoa meio boba,
que não fazia parte de nenhuma rodinha de amigos; o sujeito fácil, assim como o
“arroz de festa”; e também significava a política de divisão do poder político
nacional pelos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Apesar
do título e de trazer verbetes organizados à maneira de um dicionário, o livro
de Villas não configura um dicionário tradicional. Na visão do autor, trata-se
mais de uma seleção de minicrônicas, pois ele conta pequenas histórias para
mostrar o caminho traçado pela palavra que selecionou: como era seu uso e no
que se transformou – ou se caiu no esquecimento, mas sem explicar o porquê do
desuso.
Nascido
em Belo Horizonte, Villas tem outros quatro títulos publicados: “O mundo
acabou!”, “Afinal, o que viemos fazer em Paris?”, “Admirável mundo velho!” e
“Onde foi parar nosso tempo?” (Revista Brasil Rotário, maio de 2012, p.41)
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