Adriana Fonseca - Valor - 30/05/2012
Viviane Rodrigues, supervisora de recursos humanos na Klüber,
decidiu melhorar o português para orientar e avaliar os jovens que
ingressavam na empresa.
Gerente de relacionamento em um grande banco do país, Leonardo Tadeu Biondo Silva começou, recentemente, um curso de português para brasileiros na Fisk. Formado em economia e com um MBA concluído há dois anos, Silva acha complicado comunicar as necessidades da sua área nos relatórios que envia para outros departamentos da empresa. "Tenho dificuldade com a escrita e em me fazer entender através de textos", explica o executivo de 25 anos.
Gerente de relacionamento em um grande banco do país, Leonardo Tadeu Biondo Silva começou, recentemente, um curso de português para brasileiros na Fisk. Formado em economia e com um MBA concluído há dois anos, Silva acha complicado comunicar as necessidades da sua área nos relatórios que envia para outros departamentos da empresa. "Tenho dificuldade com a escrita e em me fazer entender através de textos", explica o executivo de 25 anos.
Segundo Silva, para conseguir atender bem seus clientes, ele precisa
argumentar por escrito com as equipes de crédito do banco e nem sempre
consegue transmitir suas ideias claramente nos pareceres que apresenta.
O executivo já tinha percebido esse ponto fraco, mas o feedback de
seu chefe em uma avaliação interna foi o pontapé que faltava para ele
correr atrás e aprimorar suas habilidades com a língua portuguesa.
"Cheguei a perder uma promoção por não ter sido bem avaliado nas
competências relacionadas à comunicação", diz ele.
Silva não está sozinho. Ao perceber uma demanda dos profissionais
brasileiros por aperfeiçoamento na língua portuguesa, a rede de escolas
Fisk lançou, em 2010, um programa voltado para esse público. Hoje, dois
anos após o lançamento, os frequentadores do curso de português para
brasileiros já representam 5% dos 500 mil alunos da rede. "O intuito do
programa é atender quem tem competência técnica em sua área de atuação
mas tem dificuldade com a língua portuguesa", afirma Elvio Peralta,
diretor-superintendente da Fundação Fisk.
Peralta conta que, na época do lançamento, o curso não teve muita
procura. Mais conhecida pelo ensino da língua inglesa, a Fisk começou a
divulgar o programa de português entre as pessoas que faziam parte de
seu círculo - alunos, ex-alunos, moradores dos bairros onde há unidades
instaladas e público em geral. Não deu muito certo. "As pessoas não
procuram esse tipo de curso porque normalmente não sabem de suas
limitações", diz o diretor. Por isso, a rede mudou sua estratégia.
Passou a divulgar o novo curso nos departamentos de recursos humanos das
empresas e a desenhar programas customizados no modelo "in company".
Segundo Peralta, 70% dos alunos do curso de português vêm das
empresas, principalmente de departamentos financeiros e comerciais. A
grande maioria, de acordo com ele, tem nível gerencial. "São pessoas que
estão no início da carreira e começando a ascender profissionalmente",
diz. Nessa fase da vida, os jovens executivos passam a enfrentar
situações em que precisam mostrar suas habilidades com a oratória, seja
em reuniões, apresentações ou em textos de relatórios. É o momento em
que os problemas aparecem.
As dificuldades mais comuns entre os alunos do curso de português, de
acordo com Peralta, são a oralidade, escrever sem erros de
concordância, falta de objetividade e clareza. Atualmente, existem 800
empresas conveniadas com a Fisk, cujos funcionários podem usufruir do
curso de português.
Supervisora de recursos humanos na Klüber Lubrication Brasil, Viviane
Rodrigues percebeu que precisava se aperfeiçoar no português. Ela conta
que passou três anos de sua infância, quando estava no fim do ensino
fundamental, nos Estados Unidos e no Canadá, o que lhe rendeu um bom
domínio da língua inglesa, mas prejudicou a fluência em sua língua
materna. "Eu não me sentia segura ao ter que falar em reuniões e ao
avaliar jovens profissionais que ingressavam na empresa", diz ela.
Na área em que atua, Viviane acompanha o desenvolvimento dos
estagiários e coordena o "pool" de secretárias da empresa. "Muitas vezes
preciso corrigir erros de gramática que eles cometem e orientá-los para
que melhorem nesse aspecto. Como poderia fazer isso sem me sentir
segura em relação ao domínio do português?", diz ela.
Para resolver o problema, Viviane aproveitou o convênio que a empresa
onde trabalhava tinha com a Companhia de Idiomas e fez seis meses de
aulas individuais. A jornada incluía uma hora de aula, duas vezes por
semana.
A assistente executiva Katia Cordeiro do Espírito Santo também se viu
diante do desafio de aprimorar suas competências linguísticas. Ela
conta que trabalhou em uma empresa de logística onde assessorava um dos
diretores e, nessa fase, adquiriu muitos vícios de linguagem. "Meu chefe
não tinha tempo e eu precisava passar as informações para ele muito
rápido, usando até abreviações ", conta Katia. A experiência
profissional deu à assistente o hábito de falar sempre com pressa e de
usar o gerúndio em excesso.
No emprego seguinte, quando assessorava um executivo do ramo
imobiliário, os hábitos adquiridos no trabalho anterior atrapalharam um
pouco a dinâmica do escritório. Katia conta que precisava conversar com
clientes "top" e seu chefe lhe pediu que fizesse um curso de português
para "dar uma polida" no seu jeito de falar. Foram oito meses de aulas
na Companhia de Idiomas, duas horas por dia, de segunda à sexta-feira.
Tudo pago pelo chefe. No programa, Katia trabalhou oralidade, redação e
capacidade de concisão na escrita.
Rosângela de Fátima Souza, sócia-diretora da Companhia de Idiomas,
diz que o curso de português para brasileiros da escola é construído de
acordo com a necessidade do aluno. "Assim como em um idioma estrangeiro,
temos falantes da língua em diferentes níveis", justifica.
Para desenhar o curso, os professores da escola simulam situações de
trabalho com os alunos e até gravam, em vídeo, apresentações desses
profissionais. O programa é estruturado em cima disso e de alguns
testes.
A maior parte dos alunos, segundo Rosângela, já está no mercado de
trabalho. São profissionais que vão desde o nível operacional- como os
garçons da rede Griletto, que fizeram um curso de português para refinar
o idioma falado- até diretores. Quase sempre a contratação do programa é
feita pela área de recursos humanos da empresa. "Os gestores de RH têm
percebido que a falta de uma comunicação oral e escrita adequada gera
ruídos em todas as áreas", diz.
Rosângela afirma que, entre os alunos que ocupam cargos de diretores e
gerentes, a dificuldade mais comum está na clareza da escrita, o que
influencia a compreensão de relatórios. Não cometer erros gramaticais e
de concordância em apresentações também é um desafio constante para esse
público, segundo ela.
Os cursos, segundo Rosângela, são dados em aulas individuais ou em
pequenos grupos- de no máximo cinco alunos. O tempo de estudo varia
muito porque depende das necessidades de cada profissional.
A Lotus Idiomas, rede de escolas com seis unidades em São Paulo,
também desenvolve o curso de português para brasileiros de forma
customizada, de acordo com as particularidades do aluno. Desde a reforma
ortográfica da língua portuguesa em 2009, a procura por programas de
redação e gramática na escola aumentaram, segundo Mari Fernandes,
auxiliar de coordenação.
Ela diz que quase a totalidade dos alunos desse tipo de curso tem
ensino superior e está no mercado de trabalho. Os frequentadores mais
assíduos são advogados, engenheiros, médicos e jornalistas. "Esses
profissionais precisam ter um texto correto em e-mails e relatórios",
diz Mari. Segundo ela, as aulas normalmente são focadas nas temáticas do
mundo corporativo e há, inclusive, programas bem específicos, como o de
redação jurídica.
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